quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Resenha do Curta "Imminente Luna"

O curta Imminente Luna é dirigido por Maurício Lanzara e tem a autoria de Marcus Vinicius de Arruda Camargo, que é autor, produtor e diretor, formado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes ECA-USP e tem um trabalho voltado para o teatro, cinema e televisão. Na televisão escreveu para o programa infanto-juvenil bambalalão da TV Cultura na década de 80 e já recebeu prêmios como o Prêmio Lei de Incentivo a Cultura, Troféu TV Cultura, e Melhor Curta-Metragem Nacional na 24ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com o curta Imminente Luna, que é passível de diversas abordagens pela leveza de produção.
O curta apresenta um bom roteiro e já demonstra no diálogo inicial o poder que a palavra tem. O filme conta a história de dois idosos, Matias, representado por Raul Cortez e Ernesto, representado por Emílio Di Biasi, mostrando como superar a luta contra a solidão utilizando para isso o otimismo e as palavras.
Com o poder de sua palavra Matias, no decorrer da história consegue mudar o humor e perspectiva de vida de seu companheiro de quarto em um asilo, fazendo com que ele sonhe e veja um mundo mais otimista através dos seus olhos, pois em momento algum ele consegue ver com seus próprios olhos o que o amigo narra.
No decorrer do filme, percebemos que Matias dita o sentido do seu mundo, criando histórias e situações que ganham um tom de realidade quando Ernesto começa a acreditar. Ele sabe que não poderá sair do quarto, mas cria seu próprio mundo para fugir dali e dessa forma contagia seu companheiro que começa a ver com outros olhos a tristeza e a solidão do local.
Para o filósofo Georg Hegel a liberdade é a única verdade do espírito, e Matias, apesar de saber que o fim de seus dias será naquele local, não se sente assim, ele cria sua liberdade e leva junto consigo o amigo Ernesto.
O curta tem como tema principal a solidão, e o problema colocado pelo autor é a solidão na velhice, pois percebemos que ambos tem histórias para contar, o que é revelado por histórias de família e amigos em um outro momento de suas vidas. No momento em que aparece Matias com cartas dentro de uma gaiola, dizendo que não teve filhos ou família, é revelada uma tristeza com o abandono dos mesmos, e para ele prender aquelas cartas em uma gaiola era como aprisionar suas próprias lembranças.
Na cena em que ele relata a briga de um casal pela janela, transpareceu uma briga com sua própria esposa, com a descoberta de um filho que não era seu. Pela tristeza com que ele conta o fato, não houve um perdão de sua parte e ele acabou perdendo sua família. Mas apesar de tudo ele conseguia repassar fatos tristes de sua vida, dando a leveza e o distanciamento como se fosse a história do outro, pois tudo que acontece com o outro é menos grave do que quando acontece com nós mesmos.
Percebemos que mesmo com a tristeza pela falta de seus entes, ele foge da solidão através do poder da palavra, ele mudou sua história e se tornou mais feliz trazendo para a sua felicidade o seu companheiro de quarto, Ernesto.
O ápice do filme se dá com a partida de Matias, quando Ernesto alcança a janela do quarto e percebe que não há nada mais do que um muro depois da janela, e que os dias de sol, de pessoas acenando eram a imaginação e vontade de mudar a situação de Matias, que alcançou seu objetivo consigo mesmo e com Ernesto que gradualmente foi passando de pessimista a otimista.
Imminente Luna é um curta atrativo e dinâmico, mesmo com pouco cenário e abordando um tema que poderia ser tido como piegas, o autor percebe os momentos exatos de quebra dos diálogos, e o curta ainda conta com a atuação precisa de Raul Cortez e Emílio Di Biasi que mesmo exercendo o papel de narrar, o fazem brilhantemente.

Li Mendes

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